Veja o que acontece com o corpo após longos períodos no espaço: Impactos e desafios da readaptação

Descubra como missões espaciais prolongadas afetam a saúde dos astronautas e os desafios médicos que enfrentam ao retornarem à Terra, desde perda óssea até problemas de visão causados pela microgravidade.

Publicado em 20/03/2025 por Rodrigo Duarte.

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A recente conclusão da missão prolongada de astronautas na Estação Espacial Internacional (EEI) chamou atenção para os intensos desafios médicos enfrentados por humanos após longas temporadas no espaço. O que era para ser uma estadia relativamente curta se transformou em uma das mais longas missões espaciais, com mais de 280 dias em órbita, expondo o corpo humano aos efeitos prolongados da microgravidade. Especialistas da NASA e médicos espaciais explicam que esta readaptação é um processo complexo que pode levar semanas ou meses.

Antes de retornarem definitivamente para casa, astronautas precisam passar por um rigoroso período de avaliação médica. No Centro Espacial Lyndon B. Johnson da NASA, em Houston, uma equipe multidisciplinar monitora diversos parâmetros fisiológicos e realiza uma bateria de exames para garantir que estes profissionais possam se readaptar à vida terrestre com segurança. Tonturas, enjoos e dificuldades de equilíbrio são apenas os sintomas iniciais e mais visíveis de um processo muito mais profundo de readaptação corporal.

A transição entre ambientes com diferentes níveis de gravidade representa um dos maiores desafios para o corpo humano. Como explicou Peggy Whitson, ex-astronauta com experiência em longas missões: "É um grande choque para o corpo voltar à Terra. Tudo é muito pesado. É preciso algum tempo para voltar a estar acostumado à gravidade novamente". Esta readaptação exige um acompanhamento médico personalizado e um programa de reabilitação específico para cada astronauta.

Veja o que acontece com o corpo após longos períodos no espaço: Impactos e desafios da readaptação
Créditos: Redação

Impactos da ausência de gravidade no sistema musculoesquelético

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Um dos efeitos mais significativos e bem documentados da permanência prolongada no espaço é a deterioração óssea e muscular. Segundo dados da NASA, astronautas podem perder entre 1% e 2% de densidade óssea por mês durante missões espaciais, um ritmo alarmante quando comparado ao processo natural de envelhecimento na Terra. Esta perda é particularmente evidente nas regiões que suportam peso, como membros inferiores e coluna vertebral, estruturas que na Terra são constantemente desafiadas pela gravidade.

A atrofia muscular também ocorre rapidamente na ausência da constante resistência gravitacional. Estudos revelam que os astronautas podem perder até 20% de sua massa muscular em missões de longa duração, apesar dos rigorosos protocolos de exercícios físicos implementados na EEI. Para combater esses efeitos, a NASA desenvolveu equipamentos especiais como a Máquina de Exercício Resistivo Avançado (ARED), que simula o levantamento de peso em ambientes de microgravidade.

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A readaptação à gravidade terrestre após o retorno representa outro grande desafio. Os músculos atrofiados e os ossos enfraquecidos precisam suportar novamente o peso corporal integral, o que pode resultar em dores intensas, dificuldades de locomoção e risco aumentado de fraturas. Pesquisadores do Programa de Pesquisa Humana da NASA trabalham continuamente no desenvolvimento de contramedidas e protocolos de reabilitação para minimizar estes impactos.

Alterações na visão e o fenômeno da síndrome neuro-ocular associada ao voo espacial

Um dos problemas mais intrigantes e preocupantes observados em astronautas após missões espaciais prolongadas são as alterações visuais. Aproximadamente 60% dos astronautas que passaram mais de 30 dias no espaço relataram algum grau de deterioração visual. A condição, conhecida como Síndrome Neuro-Ocular Associada ao Voo Espacial (SANS), manifesta-se principalmente como edema do disco óptico, achatamento do globo ocular e alterações no nervo óptico.

Pesquisadores acreditam que estas alterações estão relacionadas à redistribuição dos fluidos corporais na ausência de gravidade. Na Terra, a gravidade mantém os fluidos predominantemente na parte inferior do corpo, mas no espaço, ocorre um deslocamento para a região superior, incluindo a cabeça e os olhos. Este fenômeno aumenta a pressão intracraniana e pode comprometer a visão de formas temporárias ou, em casos mais graves, permanentes.

A SANS representa um dos principais desafios para missões espaciais de longa duração, como as planejadas para Marte. Técnicas inovadoras como o uso de calças de pressão negativa na parte inferior do corpo estão sendo testadas para simular os efeitos da gravidade na distribuição de fluidos. Além disso, missões espaciais agora incluem equipamentos sofisticados para monitoramento ocular, permitindo que os astronautas realizem exames periódicos durante sua estadia no espaço.

  • Achatamento do globo ocular
  • Edema do disco óptico
  • Alterações na acuidade visual
  • Hipermetropia adquirida

Impactos no sistema cardiovascular e circulatório

O sistema cardiovascular também sofre adaptações significativas durante a permanência no espaço. Na ausência de gravidade, o coração não precisa trabalhar tanto para bombear o sangue contra a força gravitacional, o que leva a uma redução do volume cardíaco e diminuição da massa muscular do coração. Segundo estudos da Baylor College of Medicine, esta adaptação, embora apropriada para o ambiente espacial, pode resultar em complicações após o retorno à Terra.

Astronautas frequentemente experimentam hipotensão ortostática ao retornarem, uma condição onde a pressão arterial cai drasticamente ao ficar em pé, podendo causar tonturas e até desmaios. Esta resposta é resultado da desregulação do sistema cardiovascular, que perdeu parcialmente sua capacidade de compensar rapidamente as mudanças posturais sob influência da gravidade terrestre.

A redistribuição de fluidos corporais também afeta o volume sanguíneo circulante. No espaço, o corpo percebe um excesso de fluidos na parte superior, levando aos mecanismos de eliminação que resultam em uma redução do volume sanguíneo total. Esta condição, conhecida como hipovolemia relativa, contribui para os problemas cardiovasculares observados após o retorno e exige cuidadosa rehidratação e monitoramento médico.

Sistema afetado Efeitos no espaço Sintomas após retorno
Musculoesquelético Perda de densidade óssea e massa muscular Fraqueza, dificuldade de locomoção, risco de fraturas
Visual Síndrome SANS, edema do disco óptico Alterações na acuidade visual, problemas de foco
Cardiovascular Redução do volume cardíaco, redistribuição de fluidos Hipotensão ortostática, tonturas, taquicardia

Alterações gastrointestinais e dermatológicas no retorno à Terra

O sistema digestivo também não escapa das consequências da microgravidade. Astronautas frequentemente relatam alterações na motilidade intestinal, azia e distúrbios digestivos após o retorno. A alteração na posição dos órgãos internos durante a permanência no espaço e sua readaptação à gravidade terrestre são fatores contribuintes para estes sintomas. Especialistas em medicina espacial recomendam dietas específicas durante o período de readaptação para minimizar o desconforto gastrointestinal.

As alterações dermatológicas representam outro desafio frequente. Após meses expostos ao ambiente controlado e artificial da estação espacial, a pele dos astronautas se torna mais sensível e propensa a irritações ao reentrar na atmosfera terrestre. Erupções cutâneas, vermelhidão e ressecamento são queixas comuns nos primeiros dias após o retorno. A readaptação às condições atmosféricas da Terra, incluindo umidade, temperatura e exposição a alérgenos, exige cuidados especiais com a pele.

Pesquisadores do Centro de Medicina Espacial desenvolvem protocolos específicos para minimizar estes impactos, incluindo hidratação intensiva da pele e exposição gradual às condições ambientais terrestres. O monitoramento contínuo destes parâmetros fornece dados valiosos para o planejamento de futuras missões espaciais de longa duração, como as previstas para exploração lunar e marciana.

Avanços na medicina espacial e perspectivas para exploração futura

A medicina espacial evoluiu significativamente nas últimas décadas, desenvolvendo contramedidas cada vez mais eficazes para mitigar os efeitos adversos da microgravidade no corpo humano. Protocolos de exercícios personalizados, suplementação nutricional, medicamentos específicos e tecnologias de monitoramento remoto representam alguns dos avanços que têm permitido estadias cada vez mais longas no espaço sem comprometimento irreversível da saúde dos astronautas.

Para as ambiciosas missões tripuladas a Marte, que podem durar até três anos entre ida e volta, os desafios médicos se multiplicam. Além dos efeitos já conhecidos da microgravidade, os astronautas enfrentarão exposição prolongada à radiação cósmica e isolamento extremo. Pesquisadores trabalham no desenvolvimento de tecnologias inovadoras, como habitat com gravidade artificial gerada por centrifugação e escudos avançados contra radiação, para tornar estas missões viáveis.

O conhecimento adquirido com cada missão espacial não beneficia apenas os futuros astronautas, mas também a medicina terrestre. Estudos sobre perda óssea no espaço contribuem para o entendimento e tratamento da osteoporose. Pesquisas sobre distúrbios visuais em microgravidade oferecem insights sobre condições como hipertensão intracraniana idiopática. A medicina espacial se torna, assim, um campo de vanguarda que expande os horizontes da ciência médica em geral, beneficiando a humanidade muito além das fronteiras da exploração espacial.

  1. Protocolos de exercícios personalizados
  2. Monitoramento remoto de parâmetros fisiológicos
  3. Desenvolvimento de habitat com gravidade artificial
  4. Pesquisa avançada em proteção contra radiação
  5. Aplicação de conhecimentos em tratamentos terrestres
ESCRITO POR: Rodrigo Duarte - Jornalista formado pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), com especialização em Marketing Digital.