Despertadores Múltiplos: Por que adiar o alarme prejudica seu sono

Descobra como o hábito de programar vários despertadores afeta negativamente seu sono REM, metabolismo e saúde mental. Especialistas explicam os riscos e oferecem alternativas para acordar melhor.

Publicado em 27/02/2025 por Rodrigo Duarte.

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O hábito de programar vários despertadores e adiar o alarme repetidamente pode parecer inofensivo, mas especialistas alertam que esta prática comum compromete significativamente a qualidade do sono e afeta diversos aspectos da saúde. Estudos recentes da Sociedade Brasileira de Medicina do Sono revelam que mais de 40% dos brasileiros utilizam múltiplos alarmes para despertar, sem perceber as consequências negativas desta rotina.

Despertadores Múltiplos: Por que adiar o alarme prejudica seu sono
Créditos: Freepik

Como os Múltiplos Despertadores Afetam o Sono REM

De acordo com o neurofisiologista Dr. Javier Albares, o hábito de adiar o despertador repetidamente interrompe o sono REM, fase mais profunda e restauradora do ciclo do sono. "Quando programamos vários alarmes, estamos fragmentando artificialmente nosso sono, especialmente o sono REM, que é crucial para a cognição e processamento emocional", explica o especialista. Esta interrupção constante impede que o cérebro complete adequadamente os ciclos de sono, resultando em uma sensação de cansaço mesmo após dormir por horas suficientes.

Pesquisas da Universidade de Michigan demonstram que cada interrupção do sono pode levar até 25 minutos para que o cérebro retorne ao estágio anterior. Isso significa que três adiamentos do despertador podem custar mais de uma hora de sono de qualidade. "O sono não é um luxo que podemos negociar, mas uma necessidade biológica fundamental. Quando o comprometemos com múltiplos alarmes, há consequências diretas para nossa saúde física e mental", alerta Dr. Albares. A fragmentação do sono REM está associada a problemas de memória, dificuldade de concentração e até mesmo alterações de humor ao longo do dia.

Impacto no Metabolismo e Controle do Peso

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Um dos aspectos menos conhecidos do sono fragmentado é sua influência no metabolismo e controle do peso. Especialistas da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO) confirmam que o sono inadequado afeta diretamente a produção de hormônios que regulam o apetite, como a leptina e a grelina. "Quando interrompemos constantemente nosso sono com múltiplos alarmes, criamos um desequilíbrio hormonal que aumenta a sensação de fome e diminui a saciedade", explica a endocrinologista Dra. Mariana Santos.

Estudos publicados no Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism demonstram que pessoas com sono fragmentado consomem em média 300 calorias a mais por dia, com preferência por alimentos ricos em carboidratos e gorduras. Além disso, a privação de sono reduz a sensibilidade à insulina, aumentando o risco de diabetes tipo 2. "Muitas pessoas não fazem a conexão entre seus hábitos matinais e o ganho de peso, mas a ciência é clara: adiar repetidamente o despertador pode contribuir significativamente para problemas metabólicos", complementa a especialista. A longo prazo, este padrão pode resultar em ganho de peso progressivo e dificuldade para emagrecer.

Alternativas Saudáveis para Despertar

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Especialistas em medicina do sono recomendam estabelecer uma rotina consistente de despertar, com apenas um alarme programado para o horário em que realmente precisa levantar. "O ideal é acordar naturalmente, sem alarmes, mas sabemos que isso nem sempre é possível. Se precisar usar um despertador, escolha modelos que simulam o amanhecer ou que utilizam sons menos agressivos", sugere o neurologista Dr. Paulo Menezes, especialista em distúrbios do sono.

Algumas estratégias eficazes incluem:

  • Manter horários regulares de sono, mesmo nos fins de semana
  • Expor-se à luz natural logo ao acordar para regular o ciclo circadiano
  • Posicionar o despertador longe da cama, forçando-se a levantar para desligá-lo
  • Utilizar aplicativos de monitoramento do sono que despertam durante fases mais leves do ciclo
  • Estabelecer uma rotina relaxante antes de dormir para melhorar a qualidade do sono

"A consistência é fundamental para treinar seu relógio biológico. Após algumas semanas seguindo um horário regular, muitas pessoas começam a despertar naturalmente, sem necessidade de alarmes", afirma Dr. Menezes. Estudos da Fundação Nacional do Sono indicam que pessoas com rotinas consistentes de sono apresentam melhor desempenho cognitivo e níveis mais baixos de estresse.

Suplementos Naturais e Práticas para Melhorar o Sono

Além de estabelecer rotinas saudáveis, alguns suplementos naturais podem auxiliar na qualidade do sono. O açafrão, mencionado pelo Dr. Albares, contém compostos que podem ajudar a induzir o sono e melhorar sua qualidade. "Estudos preliminares sugerem que o açafrão pode ter efeitos positivos sobre o sono devido às suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias", explica a nutricionista Dra. Camila Rodrigues, especialista em nutrição funcional. Outros suplementos com evidências científicas incluem a melatonina, magnésio e chás de camomila e valeriana.

No entanto, os especialistas são unânimes em alertar: "Nenhum suplemento substitui bons hábitos de sono ou tratamento adequado para distúrbios do sono. Consulte sempre um profissional antes de iniciar qualquer suplementação", adverte Dra. Rodrigues. Para quem sofre com insônia crônica ou dificuldades persistentes para despertar, a recomendação é buscar avaliação em uma clínica especializada em medicina do sono, onde exames como a polissonografia podem identificar problemas subjacentes como apneia do sono ou síndrome das pernas inquietas.

Impactos Cognitivos e Emocionais do Sono Fragmentado

Pesquisas recentes em neurociência demonstram que o sono fragmentado por múltiplos despertadores tem efeitos significativos sobre a cognição e o equilíbrio emocional. "Quando interrompemos repetidamente o sono REM, prejudicamos a consolidação da memória e o processamento emocional que ocorre durante esta fase", explica a neuropsicóloga Dra. Beatriz Oliveira. Estudos de neuroimagem mostram que pessoas com sono fragmentado apresentam menor atividade no córtex pré-frontal, área responsável pelo controle de impulsos e tomada de decisões, e maior atividade na amígdala, região associada às respostas emocionais.

As consequências práticas incluem maior irritabilidade, dificuldade de concentração, menor capacidade de resolver problemas complexos e tomada de decisões prejudicada. "Muitas pessoas normalizam a sensação de 'cérebro nebuloso' pela manhã, sem perceber que isso é resultado direto da fragmentação do sono causada pelos múltiplos alarmes", observa Dra. Oliveira. Estudos longitudinais sugerem ainda que a privação crônica de sono de qualidade está associada a maior risco de desenvolvimento de transtornos de ansiedade e depressão. Priorizar o sono contínuo e de qualidade, portanto, não é apenas uma questão de disposição física, mas um investimento essencial em saúde mental e capacidade cognitiva.

ESCRITO POR: Rodrigo Duarte - Jornalista formado pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), com especialização em Marketing Digital.